Agora que tudo acabou, não pegue para si o sentimento da culpa, o sentimento de "onde foi que eu errei?" Não erraram em momento algum, vocês fizeram o melhor que podiam com as ferramentas que tinham. Foi apenas uma questão de tempo desencontrado, vocês na ida e eu na volta, se assim posso dizer.
É natural que muitas perguntas lhes venham e jamais haverá qualquer resposta que seja confortante. Não se perguntem "por quê eu não conversei sobre esse assunto?", pois eu jamais explicaria. Não há explicação quando não se sabe ao certo o que está acontecendo. Talvez nem conhecimento sobre isso vocês tinham. Como podem conversar sobre algo que não fazem a menor ideia do que seja? Como podem ouvir minhas lamentações se eu tinha absoluta convicção de que vocês não me entenderiam? Então relaxem, não há culpa de ninguém além da minha própria. Também não fiquem procurando tempos pregressos e dizendo "nossa, ele deu tantos sinais!", pois já é tarde, já é passado... já acabou. Agora são sinais; antes eram somente expressões sem sentido, vitimistas ou de alguém fraco, só querendo chamar a atenção; não importa mais qualquer julgamento que tenham feito.
Também não importa o que me levou a fazer isso, afinal de contas, é só uma estatística, é só mais um no meio de milhões de silenciosos prestes a fazer a mesma coisa. Os números são importantes e as pessoas já perderam qualquer valor há muito tempo, pode acreditar. Hoje em dia tudo se resolve se as metas forem batidas, mesmo que as pessoas estejam em seus últimos leitos. As metas importam, portanto é para elas que as preocupações e discussões devem ser voltadas.
Não fiquem olhando pra mim com esses olhos, pois não posso mais abrir os meus. Peguem tudo o que eu tinha. Tudo e qualquer coisa que lembrava algo a meu respeito, sem a mínima exceção. Coloquem tudo junto no mesmo lugar e vejam o fogo tomar conta. Assistam até não restar mais nenhuma parte que se identifique. Façam o mesmo comigo e aqueçam pela última vez esse cara frio. Vejam até o final das chamas e percebam, finalmente, o valor que as cinzas têm.
Paulo Spachi