domingo, 13 de maio de 2018

O que sente na depressão? Nada é a melhor resposta.

O foda da depressão é que ela não te mata rápido, de uma vez, sem dor, sem saber de onde veio o tiro. A depressão vai te sugando aos poucos, te esvaziando a conta-gotas. É como um minúsculo furo no peito, ao espremer uma espinha, onde o sangue nunca para de sair. Você observa o furo, vê o sangue como lágrimas escorrendo pelo peito. E você vai secando lentamente, quase sem perceber, sendo otimista o tempo todo e dizendo para si mesmo: “vai parar”. Você coloca uma camisa que aos poucos fica ensopada, incômoda. As camisas são trocadas, dias após dias, até que tudo passa a ter a mesma cor, vermelho. Os dias são sempre os mesmos, tornam-se pesados e sem vida. Lentamente, o vermelho vai perdendo a cor e tudo o que tinha alguma coloração simplesmente fica cinza. Aquela velha frase “Quando o dia amanhecer cinzento, levante-se com lápis de cores”, simplesmente não funciona para quem tem depressão. Todos os lápis são tão cinzas quanto os dias, tão cinzas que você simplesmente deseja antecipar sua medíocre existência em cinzas. A vida se torna confusa, sem planejamentos, sem perspectivas, sem novidades, sem alegria, sem ninguém que possa te ver atrás de um vidro transparente. Nesse estágio você logo percebe que o sangramento não vai parar; nem quer que pare. O desejo é de que o furo aumente, que o sangue logo jorre e que isso tudo termine de uma vez. É aí que o furo se fecha um pouco, diminui o sangramento e a distância entre você e as cinzas. Logo você nota que já está morto, que as feridas não fazem qualquer diferença. Você simplesmente se transforma em um programa que realiza todas as atividades do dia totalmente mecanizado, usando nenhuma vontade e a pouca energia que te resta. O dia passa e sequer se lembra do que disse há nove minutos, do que fez em onze. A existência se torna mera formalidade e você se torna refém desse programa, refém de você mesmo, refém do que esperam de você, refém do que você esperava de você, refém do que você descobriu que realmente é: uma dúvida constante, se vale ou não a pena continuar. Alguns decidem que sim. Outros, infelizmente, que não; que não querem mais ser reféns e se libertam; antecipam suas cinzas.